quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Corrupções do governo Lula capítulo 1

‘O governo Lula é o mais

corrupto de nossa história’

Qual a justificativa para o presidente da República nomear como ministro e integrante

de seu primeiro escalão de auxiliares o homem que publicara, num dos jornais mais importantes

do País, que ele, o presidente, era o chefe do governo “mais corrupto de nossa

história”?

Pois Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, nomeou o filósofo Roberto Mangabeira Unger no

primeiro semestre de seu segundo mandato, em 2007, ministro da Secretaria de Planejamento

de Longo Prazo, especialmente constituída para abrigá-lo. E não adiantou nem o

PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) inviabilizá-la tempos depois, durante

uma rebelião para obter mais cargos no governo e proteção para o senador Renan

Calheiros (PMDB-AL), o então presidente do Senado, acusado de corrupção. Apesar de o

PMDB derrotar a Medida Provisória que criara o posto para Roberto Mangabeira Unger,

Lula deu um jeito na situação, nomeando-o novamente, desta vez como ministro extraordinário

de Assuntos Estratégicos. A posição do detrator estava garantida.

“Pôr fim ao governo Lula” é o título do artigo de Roberto Mangabeira Unger publicado

na Folha de S.Paulo em 15 de novembro de 2005, no sugestivo dia da Proclamação da

República. O ano de 2005 havia sido marcado pela eclosão do escândalo do mensalão. Este

é o parágrafo de abertura do artigo:

“Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional. Corrupção

tanto mais nefasta por servir à compra de congressistas, à politização da Polícia Federal e

das agências reguladoras, ao achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa de dobrar

qualquer instituição do Estado capaz de se contrapor a seus desmandos.”

O que poderia ter levado o presidente da República a nomear como ministro o autor

dessas acusações? E Roberto Mangabeira Unger não estava brincado, a julgar pela defesa

que fez do
impeachment de Lula. Ao denunciar “a gravidade dos crimes de responsabilidade”

supostamente cometidos pelo presidente, o então futuro ministro afirmou em seu artigo

que Lula “comandou, com um olho fechado e outro aberto, um aparato político que trocou

dinheiro por poder e poder por dinheiro e que depois tentou comprar, com a liberação de

recursos orçamentários, apoio para interromper a investigação de seus abusos”.

Alguém poderia argumentar que a nomeação de Roberto Mangabeira Unger seria um

mal necessário. Coisa da política. E tentar explicá-la pela importância do filósofo, um professor

da prestigiada Universidade de Harvard, das mais importantes dos Estados Unidos,

por quase 40 anos. O Brasil, portanto, não poderia prescindir da experiência e do prestígio

de Roberto Mangabeira Unger, que teria muito a contribuir com o País.

Será mesmo? A cerimônia de posse do filósofo não demonstrou isso. Poucos ministros,

cadeiras vazias, menos de uma hora de solenidade. E mesmo antes da criticada viagem de

Roberto Mangabeira Unger à Amazônia, em 2008, na qual defendeu o desvio de águas da

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região para abastecer o Nordeste, sem considerar que centenas de milhares de amazonenses

ainda não dispunham de água encanada, o ministro já era considerado, em âmbito do governo,

“café-com-leite”. Ou seja, não lhe era atribuída importância, nem de seu trabalho haveria

algo para se aproveitar.

Outro trecho do artigo de Roberto Mangabeira Unger: “Afirmo ser obrigação do Congresso

Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente. As provas acumuladas

de seu envolvimento em crimes de responsabilidade podem ainda não bastar para assegurar

sua condenação em juízo. Já são, porém, mais do que suficientes para atender ao critério

constitucional do impedimento. Desde o primeiro dia de seu mandato o presidente desrespeitou

as instituições republicanas. Imiscuiu-se e deixou que seus mais próximos se imiscuíssem,

em disputas e negócios privados”.

Talvez, então, a razão para a nomeação de Roberto Mangabeira Unger tenha sido de

ordem político-partidária. Ou seja, o filósofo traria para o governo a base social representada

por seu partido, ampliando o número de legendas que davam sustentação à administração

Lula no Congresso. Como vimos, no entanto, Roberto Mangabeira Unger passou a

maior parte da vida nos Estados Unidos, o que o forte sotaque não deixava desmentir. Não

possuía qualquer base social, nem traria consigo qualquer força orgânica da sociedade.

Quanto a seu partido, o minúsculo PRB (Partido Republicano Brasileiro) tinha menos

de 8 mil filiados quando Roberto Mangabeira Unger se tornou ministro e era um dos

menores partidos políticos do País. Não agregava praticamente nada à base aliada de

Lula. Por apoio político-partidário não faria sentido nomear Roberto Mangabeira Unger.

Afinal, o PRB, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, possuía apenas três deputados

federais, um senador e o vice-presidente da República, José Alencar (MG), que saíra do

PL (Partido Liberal) em decorrência do escândalo do mensalão e foi o grande incentivador

da nomeação do filósofo.

Em outro trecho do famoso artigo, Roberto Mangabeira Unger afirmou que “Lula fraudou

a vontade dos brasileiros”, ameaçava a democracia “com o veneno do cinismo” e tinha

um projeto de governo que “impôs mediocridade”. E mais: “Afirmo que o presidente, avesso

ao trabalho e ao estudo, desatento aos negócios do Estado, fugidio de tudo o que lhe traga

dificuldade ou dissabor e orgulhoso de sua própria ignorância, mostrou-se inapto para o

cargo sagrado que o povo brasileiro lhe confiou”.

Para fazer a vontade de seu vice José Alencar, um homem leal e doente, Lula só precisaria

ter dito que gostaria muito de nomear alguém indicado por ele, mas não poderia ser o

homem que o acusara de chefiar o governo mais corrupto da história. Poderia ser qualquer

um, menos aquele que conclamara o Congresso a derrubá-lo da Presidência da República,

por corrupção. Por que Lula nomeou Roberto Mangabeira Unger, autor de acusação tão

séria? Nas páginas deste livro, o leitor será convidado a encontrar a resposta.

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